Nau

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Fim de noite
Nau silenciosa
Flores na lareira – eira, beira –
Vilas pequenas dentro da grande cidade – idade –

Não falo, choro –oro-
Penso nos meus sonhos de perder – arder –
Penso nos eu sonhos de encontrar – doar –

Diz quem é você
Fale do azul
Conte-me do longe – hoje –
Do outro lado do parque.

Fale da razão
Espere
Fale da primavera – era, era –
Que o resto será perdido.

Não, não lhe pergunto do amor
Pois não encontrei espaço para voar.
Tudo no amor é viagem – coragem?
O resto?
O resto não importa – morta .

 
por: Walkyria Rennó Suleiman
em: http://walkyria-suleiman.blogspot.com/weeblylink_new_window
   


por água abaixo [poesia incidental]

ainda estou aqui sem saber começar

porque não me acostumei com as metades

nem com os inteiros

 

quando me dou conta estou perto do fim

ou depois do meio [no meio de mim]

onde todos os caminhos se extinguem

e as pedras servem melhor aos estilingues

 

haja pulmão para tanto oxigênio

e hidrogênio quando falta o ar

na tentativa de vir à tona na hora errada

 

o sol a pino, o pino da granada,

a pressão, a queda

a verdade liquidada

 

[onde há campos minados

e nenhum verso seguro

ou se ouvem as explosões

ou apenas os soluços]

por: Adriana Coelho

em:
  http://metamorfraseando.blogspot.com/

foto:  Yessaid



na casa ao lado
espiritos inquietos sobem e descem escadas
como se o melhor a fazer fosse
subir e descer escadas

são 3:47
o sono das 3:00 já foi perdido
agora no ponto dos conscientes
espero a dormência dos sentidos

calem esses passos
como calaram as almas dentro da casa escura
amarrem esses pés
como fizeram com as vozes na gaiola da mordaça
tirem seus valiuns das gavetas
e entrem nas sombras dos cobertores

morfeu, acuda esta gente!
dardos com soníferos no centro das testas
areia movediça ao redor das camas
e uma injeção de sonhos mudos na espiral dos meus ouvidos.

Por Camila Vardarac em: http://vaga-lumens.blogspot.com/
Foto: Delilah Woolf


Nascimento


Sou feita do que ainda resta ao tempo.
Ossos falam por mim:
A crueza da existência
é o que sustenta de pé
esta estrutura humana.
Tudo mais é busca de conforto.
E canto porque somente assim tem jeito.
É como alargo o coração do mundo
e expando a voz a falar no deserto.

Por Flávia Muniz em:  http://boatardesenhorsmith.blogspot.com/
foto: Delilah woolf


o ar frio que entrava pela janela





Foto: Delilah Woolf








mais de uma vez ele me disse
que havia solução
que nem tudo estava perdido

mais de uma vez apagou a luz ao sair
me deixou na escuridão do quarto
e pôs Milles Davis para tocar

mais de uma vez me cobriu com o edredon
colocou a mão na minha testa
para ver se eu estava com febre

mais de uma vez me beijou com olhos selvagens
me chamou de vadia de louca de perdida
e deliramos juntos no deserto de nossa cama

mais de uma vez ele chorou
olhando as estrelas

mais de uma vez jurei mudar
era só uma questão de tempo

mas depois de mil e uma noites
depois de apagar a luz do quarto
ele se foi

eu fiquei

e ficou a noite a música
e o ar frio que entrava pela janela

Por Adriana Godoy em: http://driaguida.blogspot.com/


Gitana


Foto de: Delilah Woolf















meus passos não te serão


leves

nem meus saltos

nem mesmo quando levito,

ou ergo as mãos, danço e canto

sem acompanhamento

pelo ângulo certo, porém,

verás meu coração nos abetos,

os pássaros rasgarem azuis

e amanhecerem os meus beijos

vermelhos

Por: Adriana Coelho, em:

http://metamorfraseando.blogspot.com/



É meia noite, entretanto



















O poema inacabado
retorna de fugida, ao soluço conquistador da noite.
Uma história banal, soprando abruptamente no coração.
Por entre as reticências de uma vindima precoce,
ajeita a alça do vestido, agasalhada pelo roseiral.

É meia-noite, entretanto.

O cinzeiro prenhe de cinzas dos teus cigarros,
arquiva memórias suadas em pensamento.
Os olhos carregados de fel, ensaiam uma balada de centauros
que rebenta como granada, junto ao seio
e, num parto de um desejo tenaz
a boca feminina procura desfiar o adocicado sémen.

É meia-noite, entretanto.

As tuas mãos siamesas
fazem do corpo, uma escultura de mármore:
a clausura da presa pintada num fundo a preto a branco;
e deslizam as palavras junto da pele, numa confidência erótica:
«deixa-te ficar até que a noite adormeça».

É meia-noite, entretanto.
A noite principia o flutuar das horas
Quer dizer…
O fim que não se faz anunciar.
Mas o que é qu’interessa?

Ao de leve, a mulher levanta-se do leito, em antevisão.
Pisa os flocos de neve, entrega-se às réstias do desabraço
e, antes que o destino lhe pregue um estalo de mágoa
retira-se para a rua, e fica parada na travessa da espera:
perdida na névoa adensada da manhã
perdida no castelo carimbado por um aguaceiro.

Por Liliana Jasmim em: http://lilianajasmim.blogspot.com/

foto de: Delilah Woolf