O HOMEM DO FAROL
imagem: António Alves
1.
amanhã
o dia vai ser bonito
o sol mais uma vez vai colorir
a multifacetada crosta
da terra
mesmo vazia - a casa
portas e janelas abertas
irão saudá-lo
2.
em algum lugar
um velho barco regressa
(velas feridas tanto sal)
olhos aflitos
braços abertos que se fecham
em
abraços
quantos faróis no caminho e o homem
do farol
como suporta
enquanto gira
o velho artefato a indicar por onde
ir
3.
de que lugar escuro a concha
que vai secar
de onde os pássaros que povoam
a ilha
o vento que sopra nuvens agora
e deixa
um pedaço de céu estrelado
(posso ver)
4.
quantos cabelos e varais mulheres
lavadeiras quantas
lençóis quarados sobre pedras quentes
quantos
amores sobre
lençóis
quantos nãos
camas vazias mãos
quantos olhos
homens e mulheres na sina
dos dias iguais
5.
ondas que se quebram areias quentes
o galo
prestes a cantar
um pio
é quase dia
(vai ser bonito)
pesam meus olhos na janela
renasce a vida
me entrego
à quase morte do sono
da lida
sem sonhar
6.
cheiro de café com pão
em algum lugar
dizem
que o homem do farol é feliz
Por: Nydia Bonetti em http://nydiabonetti.blogspot.com/
SOLITÁRIO
Photo: Emyela
- para Henrique Pimenta
Um homem solitário, diamante
no cofre guardadinho para nada.
Não brilha seus encantos para a amada,
cintila para dentro o seu desplante.
Um homem que é sozinho, sem amante,
amarga seu amor numa danada
vontade pela fêmea que é gamada
na gema de outra jóia cintilante.
O príncipe galante foi em vão
princípio filosófico de vário
tesouro virtuoso, mas, então...
Os contos são escritos ao contrário:
virá do diamante - o seu carvão;
da fosca solidão - o seu calvário.
Por Henrique Pimenta em http://dobardo.blogspot.com/
Rosa
photo: Sinsiyenidunya
Anda, sinuosa, lagarta salamandra,
vestida e despida de rosa. Seus pelos
nos braços reluzem à sombra a que está
exposta.
Seu senso de ser inteira é esplêndido.
Traz um cheiro de quintal do mês de janeiro.
E eu me inclino quarenta e cinco graus, para
acompanhar seus penúltimos passos. Gentis.
Certeiros. Que procuram espaço vago no veio
no vácuo, no vão-de-luz-que-brilha-em-meio
-aos-meus-olhos.
Escuros da mais firme escuridão.
Por Marcelo Novaes em: http://olugarqueimporta.blogspot.com/
Eletropub
Photo: Robin Kater
A luz que me pertence não é minha,
lumia para todos, O Universo,
e tudo se esclarece em frente e verso,
os dutos para A Paz que se encaminha.
Eu via pelas dores, mas não tinha
visão, porque evidente fui disperso
do foco e na sequência, pois, converso
a mim, não desisti do que detinha.
Ao cego, derramando pela borda
seu ego, que é mantido por que o parta,
a fim de que se veja e como aborda
seu visto na cegueira, a mesa farta.
Que as partes iluminam-se nas cordas
cardíacas do Príncipe Siddartha.
Por Henrique Pimenta em http://dobardo.blogspot.com/